Beba como um local: do Spritz ao Limoncello - Campari Academy

Beba como um local: do Spritz ao Limoncello

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Alerta de spoiler: não se trata apenas de gesticulação teatral e conversas em voz alta. A cultura de bebidas na Itália remonta a séculos e é um exemplo perfeito da variedade do patrimônio cultural que o Belpaese carrega em si. Como os locais diriam, a cada cem quilômetros, as tradições podem variar, refletindo o vínculo profundo entre os habitantes e suas raízes, que, como a história ensina, estão firmemente entrelaçadas com as influências internacionais que a Itália absorveu ao longo do tempo.

O lado norte da península em formato de bota esteve sob dominação da Áustria, país vizinho, por cerca de sete décadas, a partir de 1797: os soldados austríacos achavam o vinho do Vêneto, no nordeste, forte demais para o paladar deles, e, por isso, diluíam com água com gás. Foi a origem do moderno Spritz, que a Aperol patenteou com seus tons alaranjados que lembram o pôr do sol. Indo para o oeste e pela mesma razão, até hoje é possível pedir um bianchin spruzzà nos bares mais tradicionais de Milão: Campari (nascido e criado na cidade da Madonnina) misturado com vinho branco espumante, e você está pronto para aproveitar. Acredite, muitas vezes antes mesmo do meio-dia.

A Inglaterra nunca teve uma influência estável sobre a Itália, mas conseguiu transferir alguns de seus costumes pelo mar. A Toscana, região montanhosa central, mundialmente famosa por seus vinhos incríveis, também abriga uma bebida local menos conhecida: o Ponce, uma pronúncia incorreta do inglês punch, que os habitantes da cidade portuária de Livorno adotaram. Derivado originalmente do grog britânico, que os locais provaram quando o porto de Livorno foi aberto aos navios da Marinha Real, essa versão enraizada combina açúcar, casca de limão, café (substituindo o chá original) e o característico Rum Fantasia (álcool, açúcar e caramelo), criado para se assemelhar ao então caríssimo rhum agricole. Deve ser consumido no indispensável gottino, um copo mais grosso e largo que uma xícara de espresso.

O sul da Itália, incluindo suas ilhas pitorescas, é o berço de uma quantidade impressionante de amaros e licores, que, até hoje, são facilmente encontrados em versões caseiras, passadas de geração em geração. A Sardenha, com sua mistura onírica de águas esmeraldas e montanhas rochosas, é onde você encontra o lendário Mirto: produzido ali desde 1700, embora sua origem misteriosa remonte aos antigos gregos (e deuses). Esse licor pós-refeição escuro, balsâmico e icônico, infundido com murta, era conhecido por ser levado a bordo pelos piratas sardos durante viagens para a vizinha Córsega, numa tentativa de escapar da lei. Hoje, o Mirto é um elemento essencial da experiência de agriturismo; para os corajosos, o Mirto verde, feito com infusão das folhas (o clássico vem das bagas), oferece um gole de magia única.

De volta ao continente, Nápoles tem um verdadeiro arsenal de opções: no início do século XX, era comum encontrar homens vendendo água pelas movimentadas ruas do centro histórico, servindo bebidas não alcoólicas e aromatizadas com limão para ajudar na digestão e combater o calor, especialmente com as delícias da comida de rua napolitana. Hoje, a mítica gazzosa ainda é servida em um quiosque do centro: nada mais que água, suco de limão e bicarbonato, apelidada de cosce aperte devido ao movimento de abrir as pernas para evitar se molhar ao beber. Um pouco mais ao sul, brilham os reflexos dourados do eterno Limoncello, sucesso da vizinha Costa Amalfitana e da Piana di Sorrento (onde, segundo a história, foi inventado em uma pequena pousada), produzido com as variedades de limão locais, Ovale ou Sfusato, considerados os melhores do mundo. Não se esqueça, porém: o tradicional Babbà, uma sobremesa doce e esponjosa, é tradicionalmente servido embebido em rum, como os chefs napolitanos aprenderam com a realeza francesa durante a dominação no século XVIII. É apenas mais uma maneira de consumir uma bebida.

Carlo Carnevale