A prática leva à perfeição: aprendendo a sua profissão
É verdade que a teoria é a base para começar, mas nada supera a prática quando se trata de aprender sua arte, paixão ou profissão. Conversamos com três artesãos para descobrir como experiências de outros ambientes podem influenciar a abordagem de um bartender ao seu ofício.
Pode soar como um clichê, mas raramente você encontrará um ditado que se aplique tão perfeitamente ao mundo da coquetelaria: a prática leva à perfeição.
Embora ser bartender vá muito além de apenas preparar drinques saborosos, é inegável (e bastante óbvio) que coquetéis bem feitos são um elemento fundamental para o sucesso de um bar. E ser capaz de oferecer a melhor experiência de consumo é uma tarefa que só pode ser alcançada aperfeiçoando receitas, movimentos e, por fim, o serviço.
Alguns focam na memória muscular, repetindo o mesmo processo de servir inúmeras vezes até alcançar a sequência perfeita; outros treinam religiosamente o paladar. A valorização do esforço dedicado ao aprimoramento de um ofício se espalha por toda a nossa indústria, do bar até as pessoas que trabalham ao seu redor.
Sentamos com três artesãos e perguntamos sobre suas abordagens às suas respectivas profissões: como começaram, quanto tempo levou para dominá-las e a importância da prática no processo.
Brent Bowie, co-diretor da Oakwood Cooperage, Escócia
Brent Bowie está envolvido na tanoaria há mais de 30 anos e fundou a Oakwood Cooperage em 2018, em parceria com o diretor Graham Hamilton. Reconhecido como um dos tanoeiros mais habilidosos do setor, Bowie iniciou sua jornada em programas escolares, trabalhando um dia por semana enquanto ainda era estudante, antes de ingressar em tempo integral em 1995.
Crescendo em Speyside (região com o maior número de destilarias de uísque na Escócia), trabalhar com uísque era quase inevitável, seja em uma destilaria, uma tanoaria ou um fornecedor da indústria. “Meu principal interesse era trabalhar com madeira”, explica sobre o início de sua jornada. “Havia muitos barris quebrados disponíveis e as destilarias precisavam deles. Embora os barris precisem ser iguais, eles são naturalmente diferentes, e isso me permitiu conhecer todas as suas nuances, aprimorando minhas habilidades.”
Treinado na destilaria Glenfiddich, na Joseph Brown & Sons e em Dufftown, Bowie relembra como sua profissão evoluiu ao longo dos anos: “Quando começamos, usávamos apenas ferramentas manuais, mas com o tempo as máquinas melhoraram muito. Por isso acreditamos que, se a eletricidade acaba e você ainda consegue trabalhar bem, então você é um bom tanoeiro.”
Mas para se tornar um, é preciso tempo e prática: “Foram necessários meses de dedos machucados e cortes nas mãos até eu ter a coordenação necessária. Ainda hoje, para qualquer aprendiz, o primeiro ano é crucial: é quando você é mais lento e ainda inexperiente. Como em tudo na vida, é preciso aprender a andar antes de correr, lembrando que não existem perguntas estúpidas.” Depois desse primeiro ano, segundo Bowie, a melhora se torna mais fácil.
Esse trabalho não é para todos, mas proporciona um bom estilo de vida. Se você se esforçar, terá bons retornos.
A indústria é totalmente acessível, e a experiência inicial exigida é mínima: “Para se tornar um tanoeiro, você não precisa de qualificações formais, apenas estar disposto a trabalhar duro e ter bom senso, já que usamos muitas ferramentas afiadas e maquinário pesado.” Além disso, o pagamento é feito por barril produzido, então ser bom com números é uma vantagem.
Os novos funcionários da Oakwood Cooperage começam com um tour pela fábrica para conhecer os processos e depois passam curtos períodos em cada departamento com um mentor, aprendendo tudo sobre os barris e como trabalhar com segurança. Os aprendizes levam quatro anos para se formar, mas, após o terceiro ano, são avaliados pela Cooper’s Federation of Great Britain.
Para Bowie, uma nova geração está chegando: “Investimos muito na entrada de jovens na indústria. Temos a mente aberta: se alguém está interessado e disposto a aprender, investimos tempo para treiná-lo. Esse trabalho é fisicamente exigente, mas paga muito bem e proporciona um bom estilo de vida. Se você se esforçar, terá bons retornos.”
A tanoaria é um ofício praticado há séculos. Ainda há algo para aprender? “Você para de aprender quando para de praticar”, diz ele. “Mas é importante entender que não há apenas uma maneira certa de fazer as coisas, nem uma única regra para o sucesso. Algumas técnicas nunca mudam. Trabalhei em muitas tanoarias, e cada uma tem seu próprio jeito de fazer as coisas – nem sempre melhor ou pior, apenas diferente.
Hugh Scott Moncrieff, diretor da Cake Architecture, Londres
Nos últimos 10 anos, Hugh Scott Moncrieff tem perseguido sua paixão por arquitetura e design. Seu escritório, Cake Architecture, trabalha em diversos setores, incluindo bares, sendo responsável pelo design do A Bar with Shapes for a Name, em Londres.
“Sempre fui fascinado pelo design de espaços desde pequeno”, explica. “Estudei arquitetura na The Bartlett, em Londres, e na Cooper Union, em Nova York. Acho que não é absolutamente necessário ter uma formação formal para projetar espaços, mas, em determinadas escalas, isso pode ser útil.”
Moncrieff começou como estagiário ainda no ensino médio para conhecer melhor a área, e buscou inspiração em profissionais que moldaram sua visão: “Sou muito grato à minha professora Diane Lewis, da Cooper Union, que ensinava sobre espaço através de uma perspectiva poética. Ela foi uma arquiteta incrível.”
Seu crescimento profissional foi impulsionado pela busca constante por aprendizado e inspiração. “Encontro interesse em livros, caminhadas para observar prédios, desenhá-los e manter a curiosidade ao explorar a cidade.”
A tecnologia evolui constantemente, mas o instinto criativo jamais poderá ser substituído – porque é sobre alegria e paixão, e isso não está disponível para uma máquina ainda.
Para Moncrieff, desenhar é uma prática constante, e dominar essa habilidade é o maior desafio. “A tecnologia está sempre mudando. A IA está impactando muitas áreas, mas não acredito que substitua o instinto criativo, pois ele vem da paixão.”
O design é um processo vivo e em constante evolução. “A prática é essencial, mas ninguém sabe ao certo quanto tempo leva para dominá-lo completamente. Acho que é um esforço para a vida toda. Estamos apenas começando e, com grandes projetos, espero transmitir nossa paixão para as próximas gerações. Gostaria de ensinar um dia também.”
A prática leva à perfeição? “Bem, ainda estou descobrindo…”
Michele Giuman, mestre vidreira, The Glass Cathedral, Murano
Entrar na The Glass Cathedral, na ilha de Murano, é uma experiência única. Uma antiga igreja desconsagrada agora abriga uma fornalha de vidro e um espaço para eventos. É aqui que Michele Giuman tem aprendido, dominado e demonstrado a rara arte da vidraria há 30 anos.
“Perfeição? Não existe. O que podemos fazer é dar o nosso melhor e tentar chegar o mais perto possível dela.”
Giuman reforça que o vidro exige paciência e visão: “Um mestre vidreiro visualiza o que quer criar antes mesmo de começar. Diferentes técnicas trazem desafios distintos, mas o trabalho diário nos aproxima da excelência.”
A tradição se mantém viva, mas a prática constante é o que define um verdadeiro mestre.